Diferente do que vemos por aí, Santa Sara Kali – ou Sarah La Kali – não é a padroeira de todos os ciganos do mundo; apenas os Ciganos católicos e agnósticos têm conhecimento de sua existência e lhe rendem culto.
Assim como os indigenas e africanos no Brasil, os ciganos também sofreram um processo de catecismo muitas vezes violento, desde sua chegada à Europa, vindos da Índia, sendo forçados a deixar suas antigas crenças ou adaptá-las. Dessa forma, o culto à deusa hindu Khali, A Negra – senhora da guerra e da morte -, transformou-se no culto à Sarah La Kali.
A devoção dos ciganos é também devido a fé das mulheres desse povo com essa santa. Conta-se que Santa Sarah foi a responsável pelo auxílio a Maria Santíssima no momento do nascimento do menino Jesus. Portanto, as ciganas que não conseguiam engravidar ou as que queriam ter um parto tranquilo, pediam fervorosamente o seu auxílio para este momento tão gratificante e abençoado na vida de uma mulher.
É de sabedoria desse povo que, quanto mais filhos uma mulher tiver, mais abençoada a sua vida será, pois a maior sorte e felicidade da vida é se sentir realizada em poder dar a luz a outra vida. Essas mulheres sempre retornavam à cidade de Sante Maries de La Mer com lenços para agradecer a ajuda recebida.
No sincretismo, Santa Sarah adquiriu uma figura doce e acolhedora: sua imagem é coberta de lenços, sendo ela uma protetora da maternidade. Mulheres (romi) que não conseguem engravidar e mulheres que pedem por um bom parto, ao terem seus pedidos atendidos, depositam aos seus pés um lenço (diklô). Centenas de lenços se acumulam aos seus pés, já que este tornou-se símbolo de prosperidade e saúde, e toda mulher cigana casada o tem como principal peça em seu vestuário.
Diversas lendas contam a origem da Santa. Dentre elas, a primeira menção histórica que se têm conhecimento conta que era uma das escravas de José de Arimatéia que, no ano de 50 D.C., empreendeu fuga da perseguição romana aos cristãos, acompanhada das três Marias (dentre elas, Maria mãe de Jesus Cristo).
Outra lenda, do grupo cigano Sinti, conta que foi ela quem recebeu a embarcação de José de Arimatéia quando esta se aproximou da costa do sul da França, num povoado conhecido atualmente como Saint-Maries-de-la-Mer; iniciada nos mistérios ciganos da Terra, Água e Ar, ela era o altar humano que levava a estátua de Ishtar nos ombros mar a dentro quando de suas celebrações.
Santa Sarah também abençoa os ofendidos e os desamparados. Foi Ela que, jogada no mar sem remos nem provisões, encontrou destino em terra firme, guia nossos passos no caminho do justo, em direção à felicidade!
Até hoje, todos os anos, nos dias 24 e 25 de maio, uma enorme peregrinação de ciganos de todo o mundo acontece no vilarejo de Saint-Maries-de-la-Mer para prestar homenagens à Ela.
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